Trabalho e vida cotidiana dos escravizados - Museu do Escravo, Belo Vale MG - Brasil Colonia


A Época Colonial da Escravidão no Brasil


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A Época Colonial da Escravidão no Brasil

A escravidão africana no Brasil durou mais de três séculos (cerca de 388 anos), sendo o sistema que moveu a economia colonial (cana-de-açúcar, mineração, café e gado) e que deixou marcas profundas na sociedade brasileira.

1. O Sistema de Mão de Obra e a Economia

  • Fundamento Econômico: A escravidão era um negócio altamente lucrativo para a Coroa Portuguesa e para os comerciantes, que ganhavam com a venda e compra de pessoas cativas, além dos tributos cobrados sobre o tráfico negreiro.

  • Tráfico Negreiro: A compra de africanos se dava, em parte, por prisioneiros de guerras tribais ou por dívidas no continente africano. A travessia no navio negreiro (tumbeiro) era realizada em condições insalubres e desumanas, com alta taxa de mortalidade.

  • Vida Útil: Em função das condições de trabalho extenuantes, a vida útil de um escravo, especialmente na lavoura de açúcar, era extremamente baixa, estimada em cerca de 10 anos, com uma expectativa média de sobrevida de 30 anos para as pessoas escravizadas.

  • Trabalho Escravo: Os escravizados eram empregados em diversas atividades:

    • Monoculturas e Mineração: A maioria trabalhava em grandes lavouras (açúcar, café, algodão) e na extração de ouro e pedras preciosas.

    • Trabalho Feminino: As mulheres realizavam trabalhos pesados, como debulhar café e milho, além de servirem à Casa Grande.

    • Comercialização: O museu exibe documentos da época, como cartas de fazendeiros e registros de compra e venda, atestando a natureza mercantilista da vida humana.

2. O Cotidiano da Violência e Controle

A vida dos escravizados era marcada por vigilância constante, violência física e psicológica, e total desumanização.

2.1. A Senzala (Moradia e Condições)

  • Insalubridade: As senzalas eram alojamentos extremamente apertados, com mínima entrada de ar, muitas vezes com janelas gradeadas.

  • Estrutura: Não havia divisão de cômodos. Os escravizados dormiam juntos e amontoados no chão de terra, sobre palhas ou esteiras.

  • Higiene: O mais próximo de banheiro era uma latrina no fundo do barracão, contribuindo para a insalubridade e o cheiro forte no interior.

2.2. Instrumentos de Tortura e Castigo (Acervo do Museu)

O museu preserva os objetos que demonstram a crueldade do sistema:

  • Controle de Movimento e Fuga:

    • Gargalheiras: De ferro, madeira ou com sinos, impediam a fuga e alertavam os capitães-do-mato. As gargalheiras com pontas eram feitas para enroscar o escravizado no mato.

    • Tamanco e Sandálias com Cravos: Forçavam o escravizado a andar com dor e dificuldade de equilíbrio.

    • Tronco e Pelourinho: O tronco era usado para castigo. O Pelourinho era um tronco específico, erguido em praça pública, onde os castigos eram aplicados publicamente como forma de terror e advertência (o museu tem um tronco original usado como Pelourinho).

  • Controle Sexual e Alimentos:

    • Cinto de Castidade: Modelos femininos e masculinos eram usados para controlar a vida sexual dos escravizados.

    • Máscara de Jejum/Flanders: Usada na mineração (para impedir o escravo de engolir ouro) e nas cozinheiras (para impedir que provassem a comida dos senhores).

  • Marcação e Registro:

    • Ferro de Marcar: Esquenteado e aplicado na pele do escravizado (braço, peito) para marcar a quem pertencia, com o registro detalhado no livro da fazenda.

3. Resistência e Cultura Africana

A resistência e a preservação da identidade cultural africana foram constantes durante o cativeiro.

  • Quilombos (Resistência de Trincheira): Eram comunidades de escravizados fugidos e, em alguns casos, de indígenas, localizadas em matas fechadas e perto de rios. Eles representavam a principal forma de resistência coletiva.

    • Lideranças: Figuras como Zumbi dos Palmares (símbolo máximo da resistência, líder do Quilombo dos Palmares, que chegou a reunir 20 mil habitantes) e Tereza de Benguela (líder do Quilombo do Quariterê) são destacadas.

  • Resistência Cultural e Cotidiana:

    • Capoeira: Criada pelos africanos no Brasil, era uma forma de luta disfarçada de dança para o fortalecimento do corpo e treinamento de defesa.

    • Sincretismo Religioso: Para driblar a imposição do Catolicismo (a única religião permitida), os escravizados faziam o sincretismo, rezando para seus orixás sob a figura de santos católicos.

    • Artefatos Culturais: As senzalas e quilombos serviram como "pontes culturais", permitindo a prática de rituais, danças e a manutenção de identidades étnicas.

    • Ato de Resistência: Outras formas de resistência incluíam a formação de famílias, abortos, suicídio, fuga individual, e atos de sabotagem (como fingir doença ou cuspir na água do senhor).

4. O Fim da Escravidão

O processo de abolição foi lento, fruto de pressões internacionais, revoltas internas e do movimento abolicionista.

  • Leis Abolicionistas: O governo imperial promulgou leis que, na prática, adiavam o fim do sistema sem grandes benefícios aos negros:

    • Lei Eusébio de Queirós (1850): Proibiu o tráfico interatlântico de escravos.

    • Lei do Ventre Livre (1871): Dava a liberdade aos filhos de escravizadas nascidos a partir daquela data (mas com condições).

    • Lei dos Sexagenários (1885): Dava liberdade aos escravos com 60 anos ou mais (idade dificilmente alcançada, e que vinha após a exaustão da mão de obra).

  • A Lei Áurea: Assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, estabeleceu o fim legal da escravidão. O vídeo exibe um jornal da época com a reportagem sobre o decreto.

5. Legado

A abolição não foi acompanhada de políticas de integração social ou indenização, deixando os ex-cativos desamparados, sem terra, trabalho ou direitos garantidos. Isso contribuiu diretamente para a desigualdade social e o racismo estrutural que persistem no Brasil até os dias atuais, especialmente nas periferias urbanas (as "favelas modernas")



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